3.05.2008

Teixeira dos Santos acusa Cadilhe de alarmista

Teixeira dos Santos afastou o cenário negro desenhado pelo ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, frisando que este “nada tem a ver com a realidade” portuguesa. O titular da pasta das Finanças considerou ainda que a declaração de Cadilhe “em nada ajuda a transmitir uma imagem que deve ser objectiva”. Miguel Cadilhe afirmou que Portugal “está em recessão económica grave”, situação que, segundo adiantou, começou em 1999 e se aprofundou a partir de 2003. O economista defendeu, inclusive, que o País deveria solicitar à Comissão Europeia “medidas de protecção especial”. “A insatisfação quanto ao nível de crescimento não deve autorizar que se fale em recessão porque, objectivamente, não houve”, contrapôs Teixeira dos Santos, insistindo que, tendo a economia crescido 1,8 a 2,0% do PIB, “vir dizer que [o País] está em recessão grave não tem fundamentação técnica”.

Em defesa da tese por si advogada, Cadilhe aconselha o ministro a reler o Pacto de Estabilidade e Crescimento, cuja revisão, em 2005, deu lugar ao conceito de recessão grave, passando “a abranger uma de duas situações, ou ambas: diminuição real anual do PIB, qualquer que seja a taxa de decréscimo; ou persistência, durante anos, de modesto crescimento anual do PIB ‘efectivo’ abaixo do PIB ‘potencial’”, conforme escritos do próprio economista no livro ‘Estudos Jurídicos e Económicos em homenagem ao Prof. Sousa Franco’. P

ERÍODO DE BAIXO CRESCIMENTO
Os economistas rejeitam que Portugal esteja numa recessão técnica. Falam antes de “período prolongado de baixo crescimento económico, com limitações estruturais ao desempenho da actividade”. Fala-se de recessão técnica “quando existem dois trimestres consecutivos de quedas do PIB face ao trimestre anterior”, disse o professor da Universidade de Évora José Manuel Belbute. Isso significa que o ciclo económico está em fase descendente mas pode não ter batido no fundo, acrescentou o especialista. Fernando Alexandre, professor de Economia da Universidade do Minho, diz que o problema português é estrutural e não conjuntural. Existe “um problema grave na sua trajectória de crescimento”, considerou.

NOTAS SOLTAS

DESACELERAÇÃO
A economia da zona euro acabou 2007 em desaceleração, com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,4 por cento no quarto trimestre, após 0,7 por cento no anterior. Portugal registou um crescimento de 0,7 por cento, recuperando do recuo de 0,1 por cento evidenciado no terceiro trimestre. No conjunto dos 27 da UE, a riqueza produzida aumentou 0,5 por cento, em abrandamento face aos 0,8 por cento registados no terceiro trimestre.PEC APROVADOOs responsáveis europeus aprovaram nesta manhã um ‘parecer’ em que consideram que Lisboa está em vias de ultrapassar a situação de ‘défice excessivo’ e vai alcançar o equilíbrio das suas contas até 2010. Os 27 aprovaram o PEC (Programa de Estabilidade) actualizado respeitante ao período de 2007-2011, apresentado por Lisboa em 14 de Dezembro de 2007."

BASTA LER O QUE DIZ O NOVO PACTO" (Miguel Cadilhe, economista)
Correio da Manhã – Os últimos números do PIB não apontam em sentido contrário ao da recessão?
Miguel Cadilhe – Há várias versões sobre recessão. A mais conhecida, não a mais adequada, diz que há recessão quando em dois ou mais trimestres sucessivos há queda real do PIB. É uma versão que nasceu em economias muito mais desenvolvidas do que Portugal, nomeadamente nos EUA.
– Portugal está em recessão?
– Com a revisão dos regulamentos do Pacto de Estabilidade e Crescimento feita em 2005 apareceu o novo conceito de recessão grave. Isto é, num país há recessão grave quando num ano o PIB tem perda real ou quando o PIB cresce modestamente durante vários anos consecutivos e sempre abaixo do produto potencial.
– É esse o caso de Portugal?
– Desde 2003 temos o produto efectivo a evoluir modestamente e abaixo do produto potencial. Desde 2003, inclusive.
– Mas o ministro das Finanças considera a sua afirmação gratuita. Porquê?
– Quanto a saber quem faz afirmações gratuitas e sem fundamento, é muito simples, basta ver três coisas essenciais. Primeiro, consultar o novo Pacto de Estabilidade e Crescimento, tal e qual citei atrás. Segundo, revisitar as estatísticas do decepcionante crescimento económico português desde o início da década. Terceiro, somar os hiatos negativos do nosso PIB de 2003 a, previsivelmente, 2009.
– Os políticos e os eurocratas não gostam que se fale disso?
– Acho que para os políticos não é nada positivo reconhecerem essa situação, e os eurocratas não gostam de aliviar a ortodoxia.

in CM

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