8.22.2006

Políticos e políticas


A política económica pode ser definida como o conjunto de decisões tomadas pelos poderes públicos visando alcançar determinados objectivos relativos à situação da economia. Com a perda de peso do sector público na sociedade portuguesa, os instrumentos das políticas governamentais são cada vez mais estéreis para fazer face aos desiquilibrios no nosso país. Importante continua a ser a função de redistribuição dos rendimentos por parte do Estado e o conceito de justiça social de cada Governo, mas como veremos adiante até estas intervenções são condicionadas por certa esfera de ambições pessoais.

O principal problema de qualquer política económica é que os políticos podem facilmente tornar-se populares para a opinião pública, aumentando significativamente as despesas públicas, ao mesmo tempo que reduzem os impostos. Contudo isto não passa de um truque praticado por muitos Governos em princípio ou fim de mandato – mas o facto das políticas económicas terem de convergir com os períodos eleitorais, é extremamente penalizante e tendente a exponencializar os piores momentos dos ciclos económicos.

Não se pense que esta forma de actuação é particular de alguma cor política. Como iremos ver, o que tem acontecido nos últimos tempos ultrapassa barreiras de partidos, corporações ou até interesses ideológicos. Iremos, pois, percorrer o cenário político e económico da última década e entender facilmente que o impulso dado pelos diferentes executivos governamentais depende exclusivamente do calendário pessoal duma minoria de políticos.

O que aconteceu em Portugal durante o Governo de António Guterres foi isso mesmo: um intenso e duradouro despesismo, acente em incoerências económicas dum primeiro-ministro que nem sabia fazer contas. O estratagema conseguiu durar alguns anos, mas o alerta veio de Bruxelas e a bomba eclodiu directamente na bolsa dos portugueses. O nosso país não soube responder convicentemente ao princípio da crise económica mundial e a culpa tem de ir directamente para o governo socialista, eleito à custa de promessas fáceis, acções imprudentes e preocupações falsas.

A palavra fundamental daqueles tempos foi só uma: consumir. Consumir a todo o custo, nem que para isso fosse preciso pedir empréstimos para além das próprias posses. As pessoas demonstravam uma riqueza que não tinham. Mas pior foi a perda de competitividade em todo o tecido empresarial português e a fraqueza das estratégias ligadas à inovação. O facilitismo da altura não exigia crescimento verdadeiramente sustentado.

Evidentemente, o povo português não ficou mais rico dum momento para o outro e a miragem tinha que desaparecer um dia – e extinguiu-se quando Guterres pediu finalmente a demissão, deixando cair o governo. No meio de toda esta mentira, esteve um partido que ganhou duas eleições à custa de manobras irresponsáveis e promessas vãs. Durante muito tempo vivemos o reflexo daqueles dias. Foram necessárias inúmeras correcções, políticas contraccionistas e um apertado controlo das finanças públicas. No entanto, é difícil conseguir explicar ao povo estas questões – e os contribuintes estão saturados com tanta rigidez inconclusiva. Ninguém conseguiu explicar ao português comum que algumas medidas económicas podiam ter consequências extremamente negativas a longo prazo.

Do mesmo modo, ninguém conseguirá explicar a coerência das políticas de sentido inverso que foram feitas de seguida pelo governo de direita. Aqui faltou firmeza e competência, quando se necessitava de uma liderança capaz para fazer face aos problemas do tecido empresarial portugu ês. Em vez disso, a nossa nação ficou refém da agenda pessoal de um político em particular, Durão Barroso, que mergulhou o Governo de Portugal numa crise de sucessão que só acabou com as eleições ganhas pelo actual executivo socialista.

É evidente que José Sócrates beneficiou da trapalhada social-democrata mas, mais do que isso, irá receber vantagens da actual acelaração da economia a nível mundial. Quando acabar este ciclo governativo, já teremos uma real consolidação das melhorias económicas que vêm da Alemanha, França, Estados Unidos e resto do mundo. E é fácil prever que, por alturas das eleições legislativas, o Governo socialista irá recolher os louros do crescimento que vem de fora de Portugal. Muitos ministros, que todos sabemos serem o espelho da incompetência, irão surgir nas varandas de Belém como os salvadores da pátria – quando a verdade é que, no fundo, estão a ser meros espectadores duma recuperação económica que já está a ser orquestrada pelos maiores países da Europa há bastante tempo.

O que fica desta análise é a maneira como grande parte da vida dos portugueses está sujeita às guerras políticas e ao confronto partidário, principalmente nas funções do Estado que ainda têm importância acentuada na nossa sociedade. Temos uma população cada vez mais envelhecida, mas não há preocupação real em planear os custos sociais, que no futuro aumentarão de forma astronómica. A primeira conclusão é que esta situação incongruente se vai repetir ao longo dos tempos futuros, sobretudo em sociedades culturalmente pouco evoluídas como a nossa. A segunda conclusão é que não existe uma cor política universal que engana os eleitores, existe sim uma total falta de escrúpulos na maioria da classe política.

Diogo de Araújo Dantas
Publicado in JL de 12/08/06

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